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Dicas da Dirt - Compra de moto usada


Fotos Celestino Flaire Jr.


Início de temporada e muitos aproveitam os ganhos extras de final de ano ou montante poupado nos últimos meses para trocar a motocicleta. Para os mais poderosos é mais fácil adquirir um modelo zero, principalmente com a possibilidade de adquiri-lo nas concessionárias das marcas. 


Para a grande maioria dos praticantes, no entanto, é hora de trocar de motocicleta por uma usada "nova", caso que atenção e cautela são fundamentais para você não ter dor de cabeça depois da compra. É importante, e faz toda a diferença, o seu estado de conservação, mas como todos sabemos, infelizmente tem gente que ainda faz malandragem na hora de vender uma motocicleta usada. 


Todo cuidado é pouco e contar com a colaboração de uma pessoa com conhecimento mecânico é fundamental, porque uma boa aparência pode não estar condizente com a realidade do conjunto. Alguns problemas podem estar “maquiados” ou imperceptíveis, mas não passarão despercebidos por um mecânico especialista em motocicletas de competição. Claro que problemas poderão surgir depois da compra, problemas que nem o antigo proprietário tinha conhecimento, mas um especialista pode detectar algum provável problema futuro, além de lhe orientar sobre o que será preciso fazer ou trocar na próxima manutenção preventiva, por exemplo.


A seguir damos algumas dicas e informações que lhe ajudarão a descobrir o estado real de uma motocicleta usada, lembrando que motocicletas off-road são para uso extremo e que não é possível precisar seu tempo de uso ou quilometragem, dificultando identificar se as peças internas estão muito gastas ou perto da hora de serem trocadas, como pistão, anéis, corrente do comando e outras. Alguns praticantes utilizam o horímetro para registrar o tempo de uso da motocicleta, mas ele não é garantia, pois basta trocar o aparelho por um novo ou um que apresente tempo inferior ao da motocicleta oferecida. 


Para seguir nessa tarefa, contamos com o conhecimento do nosso colaborador Philemon Rosa Vareda, mais conhecido como “Filé”, que além de praticante e tricampeão paulista de motocross, é mecânico preparador de motocicletas off-road há mais de 30 anos e conhece muito bem o assunto. Acompanhe suas informações para que você possa adquirir uma motocicleta usada em boas condições, e lembre-se que o preço não deve ser o principal foco na hora da compra, pois é melhor pagar um preço um pouco acima da média do mercado e contar com uma motocicleta bem conservada.


CHASSI – Estruturas de alumínio predominam nos modelos japoneses, enquanto o aço prevalece nas marcas europeias, como KTM e Husqvarna. Em ambos os materiais, ao verificar o estado do chassi, procure identificar amassados e fissuras/trincas, que mesmo de tamanho pequeno será problema no futuro. Trincas são mais comuns nos quadros de aço, que podem apresentar ferrugens. Atente às soldas. Solda refeita indica que já houve um dano no local, e você pode ter problema se ela não foi realizada corretamente.


Confira o estado do chassi, na busca por possíveis trincas ou danos

Alguns pilotos alteraram a cor do chassi de aço para deixá-lo próximo aos modelos das equipes de fábrica. Por exemplo, é comum encontrarmos modelos da KTM com chassi repintado na cor laranja, a cor do quadro das motos oficiais. Pode ser apenas uma preferência pessoal ou para dar uma renovada no visual, e desde que bem feita não há problema. Mas também pode estar escondendo alguma avaria. E uma solda refeita dificilmente fica igual à uma original, principalmente nos locais de maior estresse. Se existirem indícios de malfeito, desconsidere essa opção.


Tubo da direção e berço são os locais mais comuns de problemas no quadro. Trincas ou soldas refeitas podem estar no subquadro, peça onde essa situação não é tão grave – uma queda pode entortá-lo. Ao verificá-lo, atente ao seu alinhamento. Observe se o para-lama traseiro está alinhado com o restante da motocicleta, como banco e tanque de combustível. 


Finalizando o assunto, verifique o estado das mesas que fixam as bengalas, da caixa de direção e das pedaleiras e seus suportes, pois podem apresentar grandes folgas ou danos pouco aparentes que podem aumentar com o uso.


MOTOR - Esse item requer mais conhecimento e experiência, pois um leigo no assunto pode não perceber problemas internos. Se esse é o seu caso, recomendamos a colaboração de um mecânico especialista em motocicletas de competição nacionais e importadas. Um sinal básico ruim é vazamento. Já uma carcaça soldada indica que a peça quebrou e o proprietário decidiu economizar. Uma carcaça recuperada não é adequada para o bom desempenho e comportamento do motor, e peças nessa situação podem quebrar novamente e danificar outras, tornando o custo mais alto na hora da manutenção.


No motor verifique vazamentos, trincas, estado dos parafusos entre outros

Preste atenção no comportamento do motor em funcionamento. Barulhos estranhos indicam algum problema interno que somente um mecânico especializado pode identificar. Vale pontuar que os modelos de menor cilindrada, como 125 cc 2T e 250 cc 4T, exigem manutenção em períodos mais curtos – modelos de 450 cc (4T) são mais difíceis de apresentar problemas no motor, já que poucos pilotos conseguem utilizar toda a força do propulsor. Ou seja, motocicletas de cilindrada menor exigem substituição de determinadas peças com maior frequência, como pistão e anéis, corrente do comando etc.


Verifique também o estado dos parafusos e porcas do motor. Marcas ou desgaste indicam que eles foram retirados, e isso pode significar algum conserto no motor. Se estiverem intactos, sinal de que o motor não foi aberto, que ele é original, ou que o seu mecânico é cuidadoso – o que não quer dizer que ele é bom ou é ruim. Por exemplo, o proprietário pode ter realizado a manutenção preventiva pelo tempo de uso da motocicleta. Contudo, nada garante que ele usou peças originais ou premium. Assim, somente abrindo o motor para saber se tudo foi realizado com peças corretas e de qualidade.


Outro item a ser verificado é o sistema de escapamento, que pode ser original ou especial, já que muitos pilotos preferem modelos especiais, mais leves e procurando maior desempenho. Verifique o estado geral e se há alguma trinca, além dos parafusos e rebites, que podem sinalizar troca do elemento do silencioso ou conserto de parte do sistema. Questione o vendedor.


Atente também ao estado dos radiadores, afinal de contas eles são responsáveis pela refrigeração do motor. Verifique se há empenamento, trinca, solda refeita, conexões e estado das mangueiras e tampa. Não tenha pressa em fazer uma boa vistoria antes da compra.


Por fim, faça uma vistoria no chicote e conectores, buscando alterações que podem significar problemas na parte elétrica. Pergunte ao vendedor se o CDI é original ou se foi recuperado, pois às vezes um conserto não muito bem feito pode trazer problemas futuros. E o vendedor com certeza vai pensar duas vezes se vale a pena esconder uma recuperação do CDI.


SUSPENSÃO - Este é outro item difícil de apurar suas reais condições. Inicie procurando algum vazamento de óleo, normalmente causado por um retentor danificado, marcas no tubo inferior (no caso de garfo invertido), como riscos ou punções, ou mesmo alguma peça danificada. Faça o mesmo no amortecedor traseiro, lembrando que danos nas suspensões não são incomuns. Ao movimentar as suspensões com a moto parada, o movimento deve ser fluido, sem "engasgos" ou rangidos. Vale pontuar que ao andar com a motocicleta na pista ou trilha e sentir alguma irregularidade no comportamento das suspensões, você deve procurar um mecânico especialista para identificar as causas.


Na suspensão observe se existe vazamento, que pode ser causado por retentor danificado ou algum problema no tubo

Vistorie se há folga no link do amortecedor traseiro. Para isso, coloque a motocicleta sobre um cavalete, deixando a roda traseira livre. A existência de folga sinaliza desgaste das peças que compõe o link, que também prejudicam (muito) o comportamento da motocicleta.


Confira o estado do braço oscilante (balança), que também pode apresentar amassados, trincas ou soldas refeitas. Se possível, retire a guia de corrente dianteiro (veja mais no item Relação) para verificar se o braço oscilante não apresenta desgaste ocasionado pela corrente. Já encontramos casos que o piloto não acompanhou o desgaste da guia e a corrente comeu o alumínio da balança, comprometendo sua estrutura.


FREIOS - Confira o estado das pastilhas e dos discos, pois podem estar desalinhados, com riscos profundos ou mesmo com desgaste acentuado, indicando necessidade de troca. Aproveite e cheque o estado dos conduítes, onde qualquer dano pode trazer problemas no futuro. Claro, não deve haver vazamento em nenhum local do sistema.


RODAS E RELAÇÃO - Verifique o estado dos aros e raios. Atente a amassamentos e ao alinhamento (basta girar as rodas com a moto levantada). Quedas fortes ou colisões com pedras grandes ou mesmo raios soltos podem gerar trincas no aro. Solda extra significa que foi consertada. Confira também os niples e suas condições. 


Confira o estado da relação e das rodas

Aproveite para ver o estado dos cubos. No traseiro, atente também para onde a coroa é fixada. Um cubo danificado deve ser substituído, afinal de contas ele é muito exigido e está relacionado com a tração da motocicleta. O cubo traseiro precisa estar intacto, sem nenhuma avaria. 


Não deixe de olhar a relação secundária, atentando para o estado dos dentes da coroa e do pinhão. Veja se os dentes da corrente não apresentam sinais de desgaste externo e se o ajustador da tensão da corrente não está perto do limite máximo, o que significa que a vida útil chegou a fim. Veja ainda as guias (dianteira e traseira) de corrente.


COMANDOS - Confira as manetes de freio e embreagem e os pedais do câmbio e freio. Eles precisam estar alinhados, com a folga correta e sem sinais (como marcas de chave) que sofreu um realinhamento extremo, o que indica que a peça está enfraquecida e pode quebrar mais facilmente. 


DOCUMENTAÇÃO - Ao adquirir uma motocicleta de competição nacional ou importada, confira atentamente a documentação. Elas não possuem RENAVAM, somente a nota fiscal de compra (ou DANFE), que está no nome do primeiro comprador. Se você não estiver comprando dele, é preciso ter o recibo de compra dos demais donos. Recomendamos adquirir motocicletas compradas em concessionárias das marcas, pois é mais seguro. Há motocicletas trazidas por empresas importadoras, o que aumenta o risco do processo de importação apresentar alguma irregularidade. Nesse caso, portanto, a idoneidade da empresa é fundamental.


Analise a documentação e, em caso de dúvida, entre em contato com a concessionária. Antes, como as notas fiscais mais recentes são eletrônicas – e dificilmente alguém as têm –, com a DANFE (Documento Auxiliar da Nota Fiscal Eletrônica) em mãos, basta utilizar a chave de acesso (aquele extenso número localizado na parte superior direita da NF) no site www.nfe.fazenda.gov.br para ter acesso à nota fiscal completa. 


Essa verificação é fundamental e muito importante, pois já houve casos que a motocicleta foi vendida como sendo "oficial" (importação legal, com recolhimento de todos os impostos devidos) e depois foi constatado que sua procedência era duvidosa (importação ilegal). Parece mentira, mas isso já aconteceu e pode representar uma grande dor de cabeça junto à Receita Federal – e certamente ninguém quer ter problema com esse órgão. Então, muita atenção na análise da nota fiscal da motocicleta, e sempre que tiver alguma dúvida, procure o emitente da nota fiscal. 

 

Depois de verificado o estado de todos esses itens, não deixe de acelerar a motocicleta na pista ou trilha. Apesar de tudo aparentemente estar em ordem, andando com ela você pode identificar algum comportamento estranho. E reforçamos: conte com a experiência de um mecânico especializado no segmento, pois essas motocicletas são utilizadas ao extremo e muitos itens que podem apresentar problemas que são imperceptíveis para um leigo, e o custo de manutenção pode ser alto e inviabilizar a compra da motocicleta. Não tenha pressa, informe-se com amigos sobre os antigos donos, pois um histórico pode dar bons indícios (ou não).


Esperamos que essas informações possam colaborar na hora de você adquirir sua "nova motocicleta usada". Como se trata de um equipamento de competição, tenha sempre em mente que o seu estado de conservação deve ser o melhor possível. E uma boa conservação evita uma manutenção corretiva de alto custo ou mesmo diminui enormemente o risco de acidente causado por alguma peça danificada. O preço é importante sim, mas o principal é o estado real de conservação, afinal de contas é melhor pagar um valor um pouco mais alto por uma motocicleta confiável e segura, para começar uma temporada sem prejuízo e sem acidente. 










































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